Falar profundamente sobre mulheres psicopatas exige abordar aspectos clínicos, sociais e culturais. A psicopatia em mulheres existe, mas é frequentemente subestimada, mal diagnosticada ou mascarada por padrões de comportamento diferentes dos observados em homens.
O que é psicopatia?
A psicopatia é um transtorno de personalidade caracterizado por traços como:
- falta de empatia,
- manipulação,
- egocentrismo extremo,
- impulsividade,
- ausência de remorso,
- comportamento antissocial persistente.
Na psiquiatria, esses traços se enquadram no Transtorno de Personalidade Antissocial (TPA), segundo o DSM-5, embora a psicopatia seja uma categoria mais específica e profunda (sobretudo na psicologia forense).
Um exemplo de psicopatia feminina de nível grave foi retratado nas telas dos cinemas, em 1992, pelo clássico filme “Instinto Selvagem” protagonizado pela atriz Sharon Stone.
Catherine Tramell (Sharon Stone) é uma autora de romances criminais atraente, mas manipuladora como todo bom psicopata. É investigada pelo detetive Nick (Michael Douglas), por suspeita de ter matado seu amante com um picador de gelo. Tinha atração por assassinos e era também uma assassina compulsiva.
Em relação ao gênero, a psicopatia demonstra algumas diferenças importantes na prevalência, incidência, nos comportamentos e idade que surgem entre os sexos.
Com relação às mulheres, é na fase da pré-puberdade que os primeiros sintomas costumam aparecer. A Psicopatia feminina tem uma incidência muito menor que a masculina, podendo chegar a menos da metade de mulheres com este diagnóstico, apesar de existirem poucos estudos relacionando as mulheres a este transtorno.
O narcisismo é uma grande característica do transtorno de personalidade psicopática, ou seja, os homens psicopatas agem com mais superioridade e não pensam duas vezes antes de humilhar os outros. Já as mulheres psicopatas se comportam de maneira mais velada, elas se sentem superiores, mas sua finalidade é aumentar a autoestima alheia para conseguirem estar no controle. É uma agressividade silenciosa, perigosa e destrutiva.
Ao contrário dos psicopatas homens, nas mulheres psicopatas a agressão não é comportamental, mas sim psicológica. Elas são poderosas manipuladoras, fazem chantagem, exercem o controle, humilham, destruindo suas vítimas emocionalmente.
Mulheres psicopatas também matam, apesar da porcentagem de mulheres psicopatas homicidas ou que cometem atos violentos ser muito menor do que entre o sexo masculino. Ocorre que a identificação da psicopatia em mulheres é mais complexa e difícil, considerando as diferenças na apresentação clínica dos comportamentos antissociais. Mas, podemos refletir se essas mulheres não estão sendo pouco investigadas ou não diagnosticadas.

Estudos e dados científicos
- Mulheres psicopatas representam menos de 1% da população feminina, mas seu impacto pode ser grave e duradouro nas vítimas.
- Robert Hare, criador da PCL-R (Psychopathy Checklist-Revised), aponta que mulheres psicopatas pontuam alto em manipulação emocional e mentira compulsiva, e têm menor envolvimento com violência física direta do que os homens psicopatas.
- Pesquisas apontam maior prevalência de psicopatia feminina em:
- ambientes corporativos (psicopatas sociais),
- relações abusivas (psicopatas íntimas),
- contextos judiciais (como em alienação parental ou falsificação de acusações).
Psicopatia em mulheres: uma manifestação diferente
1. Menos visível, mais sutil
Mulheres psicopatas tendem a agir de formas menos fisicamente violentas e mais emocionalmente destrutivas:
- usam charme, sedução, mentira e manipulação emocional,
- exploram vínculos afetivos (familiares, amorosos, sociais),
- cometem agressões indiretas (como difamação, chantagem, alienação parental).
2. Psicopatia relacional
Um termo cada vez mais usado para mulheres psicopatas é o de “psicopatia relacional”, por se manifestar no controle emocional e psicológico dos outros, ao invés de crimes visíveis ou agressões físicas.
Exemplo: uma mulher que manipula o parceiro para isolar-se da família, provoca intencionalmente conflitos, mente compulsivamente e sabota a autoestima do outro.
3. Uso de papéis sociais como disfarce
Pelo fato de a sociedade ter expectativas de empatia e cuidado das mulheres, muitas psicopatas se escondem sob máscaras de “boa mãe”, “amiga protetora” ou “companheira carinhosa”, enquanto manipulam e prejudicam os outros por trás dessas aparências.
Traços comuns em mulheres psicopatas
- Falsidade emocional
Demonstram afeto superficial, mas sem empatia verdadeira. - Mentira crônica
Criam narrativas falsas, mesmo sem ganho direto, apenas por prazer do controle. - Vitimismo estratégico
Usam o papel de vítima para manipular, desviar culpa ou obter atenção. - Sedução como arma
Utilizam aparência, sexo ou carisma como forma de dominar emocionalmente. - Relacionamentos tóxicos
Constroem laços destrutivos e cíclicos (idealização → desvalorização → descarte). - Comportamento impulsivo e inconsequente
Podem usar filhos, dinheiro, amigos ou colegas como ferramentas para seus fins.
Diferença entre psicopatia e transtornos de personalidade próximos
Transtorno | Características principais |
---|---|
Psicopatia | Frieza, manipulação, ausência de remorso e vínculo emocional superficial. |
Transtorno Borderline (TPB) | Emoções intensas, instabilidade e medo do abandono (não confundir com psicopatia). |
Transtorno Histriônico | Necessidade constante de atenção e dramatização. |
Transtorno Narcisista (TPN) | Grandiosidade, inveja, falta de empatia, mas ainda dependente de aprovação. |
⚠️ Mulheres psicopatas às vezes são confundidas com narcisistas ou borderlines, mas a frieza emocional e o prazer em causar dano diferenciam a psicopatia.
Referências e sugestões de leitura
- Hare, Robert D. – Without Conscience: The Disturbing World of the Psychopaths Among Us (1993).
- Babiak, Paul & Hare, Robert D. – Snakes in Suits: When Psychopaths Go to Work (2006).
- Brown, Sandra L. – Women Who Love Psychopaths (2009).
- Cleckley, Hervey – The Mask of Sanity (1941).
- DeLisi, Matt (ed.) – The Routledge International Handbook of Psychopathy and Crime (2018).
- DSM-5 – Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais.