A PSICANÁLISE E A SEXUALIDADE

Sigmund Freud foi um neurologista austríaco que, além de desenvolver a psicanálise, teve uma forte ligação com a medicina. Ele começou sua carreira na medicina e trabalhou na área de neurologia, estudando doenças do sistema nervoso e do cérebro. Freud  tinha o ideal de se tornar um pesquisador no campo da fisiologia e depois a neurofisiologia animal e humana e não um médico clínico. Assume o instituto de fisiologia de Viena um tempo depois, pesquisando a fisiologia geral e depois a neurofisiologia, onde passa a estudar o sistema nervoso dos invertebrados.

Por falta de recursos financeiros e indisponibilidade de uma posição acadêmica remunerada como pesquisador em Viena, Freud não permanece nesse projeto por muito tempo e deixa o instituto, iniciando o que chamamos hoje de residência no hospital geral de Viena, para aprender a trabalhar como médico. Isso colocou Freud em contato com a prática da clínica geral e, posteriormente, com a prática das clínicas nervosas. Essa guinada acadêmica de Freud tem um papel importante no desenvolvimento de seu pensamento.

Freud utilizou seus conhecimentos médicos para entender os processos mentais e as doenças psíquicas, acreditando que o funcionamento da mente está ligado ao funcionamento do sistema nervoso. Sua formação médica foi fundamental para que ele pudesse desenvolver teorias sobre o inconsciente, os sonhos, os conflitos internos e as neuroses. Apesar de sua contribuição para a psicologia e a psicanálise, Freud também buscou integrar suas ideias com a medicina, especialmente na compreensão das doenças psíquicas como manifestações físicas, que ele chamou de neuroses. Ele defendia que o tratamento dessas condições deveria envolver a escuta e a compreensão dos conflitos internos, além de intervenções médicas tradicionais.

Ao longo do desenvolvimento da Psicanálise, Freud se afastou de uma perspectiva médica, apesar de ter permanecido com o vocabulário médico, como por exemplo, os termos sintomas, psicose, cura, tratamento, dentre outros. É inegável que, a partir de certo momento, na fase inicial, a psicanálise não vai se concretizar como um ramo da medicina. Freud não aceitava as limitações que a medicina possuía em relação ao tratamento dos distúrbios nervosos. A partir deste momento, começar a pesquisar sobre tais distúrbios.

A psicanálise, fundada por Sigmund Freud, tem uma abordagem bastante profunda e complexa sobre a sexualidade. Para ela, a sexualidade não se resume apenas ao ato sexual, mas é uma parte fundamental do desenvolvimento humano, influenciando pensamentos, emoções, comportamentos e a formação da personalidade.

A psicanálise nasce com a invenção da hipótese do inconsciente que permite acolher o fenômeno da neurose histérica e depois da neurose obsessiva e esses fenômenos se produziriam a partir de sintomas e formações substitutivas de um desejo recalcado inconscientemente. No lugar da realização do desejo, encontramos um sintoma. O corpo se alimenta e produz energia e essa energia (excitação) acaba não tendo por onde escoar sua força em objetos de satisfação, para que o sujeito alcance um estado de calma, uma diminuição dessa excitação. Isso se dá por diversos fatores que impedem esse escoamento, como regras sociais, crenças religiosas, costumes familiares e culturais, conjunto de leis que constituem o ordenamento social e que permitem que o corpo possa escoar sua energia em certos objetos e em outros não. Esse impedimento provoca na psique o que a psicanálise chama de mecanismos de recalque e repressão.

De acordo com Freud, os sintomas provocados inconscientemente pelo recalque e repressão só podem ser removidos tornando consciente o que é inconsciente. Associação livre que faz emergir no consciente, o que está reprimido no inconsciente. A partir disso, existem dois pilares fundamentais para o trabalho analítico, um é o material do sujeito onde pode emergir o inconsciente, os lapsos, os sonhos, as fantasias, etc. O outro é uma teoria sexual, que permite dar conta da energia do corpo e do objeto nos quais a energia descarrega, encontrando ou não a satisfação.

Freud observou na clínica, a partir do relato de suas pacientes que os sintomas se associavam reiteradamente a um evento da vida sexual dessas pacientes. Em 1905, publica uma obra fundamental, chamada “Três Ensaios para uma Teoria Sexual”, na qual ele explora a sexualidade humana de uma forma mais ampla e profunda. Nesse trabalho, Freud propõe que a sexualidade não se limita apenas ao ato sexual, mas é uma parte fundamental do desenvolvimento psicológico e da formação da personalidade.

Nos “Três Ensaios”, Freud discute conceitos como a sexualidade infantil, a formação da libido e as diferentes fases do desenvolvimento sexual, como a fase oral, anal e fálica. Ele também introduz a ideia de que a sexualidade é uma força que influencia muitos aspectos da vida, muitas vezes de forma inconsciente. Freud argumenta que a repressão ou a repressão de desejos sexuais podem levar a neuroses e outros problemas psíquicos. Além disso, ele destaca que a sexualidade é complexa e multifacetada, envolvendo desejos, fantasias e conflitos internos que moldam o comportamento humano ao longo da vida. Esse trabalho foi fundamental para a psicanálise e para a compreensão moderna da sexualidade, pois desafiou muitas ideias tradicionais da época e abriu caminho para uma abordagem mais aberta e científica sobre o tema.

Freud propôs que a sexualidade está presente desde a infância, passando por diferentes fases, como a fase oral, anal, fálica, entre outras. Essas fases são importantes para o desenvolvimento de uma identidade sexual saudável e para a formação de relações afetivas ao longo da vida.

A psicanálise destaca que a sexualidade é influenciada por fatores inconscientes, desejos reprimidos, experiências passadas e conflitos internos. Muitas vezes, questões relacionadas à sexualidade podem estar ligadas a traumas, inseguranças ou padrões aprendidos na infância e adolescência. A abordagem psicanalítica também ajuda a entender como a sexualidade pode ser um aspecto de conflito ou de expressão de liberdade, dependendo do contexto de cada pessoa.

 Segundo Freud, os estágios da sexualidade são fases pelas quais a criança passa enquanto desenvolve sua personalidade e sua sexualidade. São eles:

  • Estágio oral (0 a 1 ano): a criança obtém prazer através da boca, como chupar e morder.
  • Estágio anal (1 a 3 anos): o prazer está na retenção e eliminação de fezes, relacionado ao controle dos esfíncteres.
  • Estágio fálico (3 a 6 anos): a criança descobre os órgãos genitais e desenvolve o complexo de Édipo ou de Electra.
  • Período de latência (6 a 12 anos): há uma pausa no desenvolvimento sexual, com foco na aprendizagem e nas amizades.
  • Estágio genital (a partir dos 12 anos): ocorre a maturação sexual, com o desenvolvimento de relacionamentos mais adultos.

Sobre os Três Ensaios da Teoria da Sexualidade:

  • Os Três Ensaios da Teoria da Sexualidade (1905): Nesse trabalho, Freud propõe que a sexualidade não é algo que surge apenas na puberdade, mas que está presente desde a infância. Ele introduz conceitos como a libido, as fases do desenvolvimento sexual (oral, anal, fálica, de latência e genital) e discute a importância das experiências na infância para a formação da sexualidade adulta.
  • A Sexualidade Infantil: Nesse ensaio, Freud explora como a sexualidade se manifesta na infância, desafiando a ideia de que ela só surge na adolescência. Ele explica que as crianças passam por fases de prazer e desejos que influenciam seu desenvolvimento psicológico.
  • A Repressão e a Formação do Caráter: Embora não seja um ensaio separado, essa temática está presente na obra de Freud, abordando como a repressão de desejos sexuais pode afetar a personalidade e levar a neuroses.

Referências:

  1. Sigmund Freud – “Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade” (1905), que é fundamental para entender as bases psicanalíticas da sexualidade.
  2. Michel Foucault – “A História da Sexualidade” (1976), que analisa a construção social e histórica da sexualidade.

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