A PSICANÁLISE E AS NEUROSES

As neuroses e a psicanálise são temas profundamente entrelaçados. A psicanálise nasceu, em grande parte, da tentativa de compreender e tratar as neuroses. Freud começou seu trabalho clínico observando sintomas como paralisias sem causa orgânica, fobias, obsessões e estados de angústia, e foi a partir dessas experiências que ele desenvolveu a teoria psicanalítica.

Neurose é um termo que, tradicionalmente, era usado para descrever um conjunto de transtornos mentais caracterizados por ansiedade, preocupações excessivas, insegurança e dificuldades em lidar com o dia a dia. Ela não envolve perda de contato com a realidade, como na psicose, mas pode causar bastante sofrimento e afetar a vida da pessoa. Hoje em dia, o termo “neurose” é menos usado na medicina moderna, sendo substituído por diagnósticos mais específicos, como transtornos de ansiedade, transtorno obsessivo-compulsivo, entre outros.

Para a psicanálise, as neuroses são um conjunto de transtornos psicológicos caracterizados por sintomas como ansiedade, angústia, medo, fobias, obsessões e compulsões, que são compreendidos como manifestações de conflitos internos que o indivíduo vivencia e que, muitas vezes, estão relacionados a experiências passadas, traumas ou conflitos inconscientes. São uma forma de defesa do psiquismo contra conflitos e angústias internas. Essas defesas causam sintomas que prejudicam o bem-estar do indivíduo e o impedem de lidar com as situações que provocam a ansiedade e a angústia.

Especialmente na teoria de Sigmund Freud, neurose é um termo central que designa um tipo de sofrimento psíquico causado por conflitos inconscientes. Esses conflitos geralmente envolvem desejos reprimidos (especialmente de natureza sexual ou agressiva), exigências do superego (instância moral) e as limitações da realidade externa.

Existe um conflito psíquico inconsciente, ou seja, a neurose surge da luta interna entre impulsos do id (prazer/desejo), as exigências do superego (moralidade) e as restrições do ego (realidade). O desejo inaceitável é reprimido, ou seja, é afastado da consciência e mantido no inconsciente. Isso gera sintomas neuróticos (como fobias, obsessões, histeria) que funcionam como uma espécie de “compensação”.

O sintoma neurótico é uma formação de compromisso entre o desejo reprimido e a censura interna. Ele tem um sentido simbólico, ou seja, expressa o conflito de forma disfarçada.

Para Freud, a neurose não é apenas uma “doença”, mas uma solução de compromisso do psiquismo. É o preço que o sujeito paga para manter seu equilíbrio diante de conflitos internos insuportáveis.

A TEORIA PSICANALÍTICA descreve três principais tipos de neurose: a histeria, a neurose obsessiva e a fobia.

A histeria é caracterizada pela presença de sintomas somáticos, como paralisia, cegueira ou alterações sensoriais, que não têm causa orgânica aparente.

A neurose obsessiva, por sua vez, é caracterizada por pensamentos e comportamentos repetitivos e intrusivos, como rituais de limpeza ou verificação.

A fobia é caracterizada por medo intenso e irracional de um objeto ou situação específica.

JACQUES LACAN E AS NEUROSES

Jacques Lacan, relendo Freud, entende a neurose como uma posição subjetiva diante do desejo e da Lei (a castração simbólica). O neurótico é aquele que se aliena ao desejo do Outro e vive em constante oscilação entre desejo e culpa.

Lacan propõe que a neurose não é apenas um conjunto de sintomas, mas uma estrutura subjetiva, uma forma de o sujeito se posicionar em relação ao desejo e à linguagem.
Ele divide as estruturas clínicas em:

  • Neurose (fobia, histeria, obsessão)
  • Psicose
  • Perversão

A neurose é marcada por:

  • Castração simbólica reconhecida (o sujeito sabe que não pode ter tudo);
  • Divisão subjetiva (o sujeito não sabe o que deseja, ou se angustia com isso);
  • Sintoma como resposta ao desejo do Outro.

Lacan enfatiza que o sujeito neurótico está preso na linguagem, estruturado pelo significante. O inconsciente é estruturado como uma linguagem, e os sintomas neuróticos são lidos como mensagens cifradas — uma forma de o desejo se inscrever na fala.

SIGMUND FREUD E WILHELM FLIESS

Sigmund Freud e Wilhelm Fliess foram figuras centrais no desenvolvimento inicial da psicanálise, e sua relação teve um impacto significativo, embora controverso, na obra de Freud.

Wilhelm Fliess (1858–1928) foi um médico otorrinolaringologista alemão, que desenvolveu ideias peculiares sobre biorritmos e uma suposta conexão entre o nariz e os órgãos genitais. Embora suas teorias não tenham base científica sólida e hoje sejam consideradas pseudociência, ele teve uma influência notável sobre Freud por um período.

Freud e Fliess mantiveram uma intensa correspondência entre 1887 e 1904. Freud via Fliess como um “duplo”, um interlocutor intelectual importante, e confiava nele como amigo e confidente. Freud compartilhou com Fliess seus primeiros insights sobre o inconsciente, os sonhos e a sexualidade. Muitas ideias embrionárias da psicanálise aparecem nas cartas que trocavam e Fliess influenciou Freud em temas como a bissexualidade universal e a relação entre sexualidade e neurose.

Fliess inspirou Freud a explorar ligações somáticas nas neuroses, e foi durante essa época que Freud escreveu “A Interpretação dos Sonhos” (1900).

O CASO “EMMA ECKSTEIN”

Uma paciente de Freud que foi operada por Fliess para resolver problemas supostamente relacionados à sua teoria nasal-sexual. A operação foi um fracasso grave e deixou consequências físicas. Freud tentou proteger Fliess, mas isso afetou a relação deles.

Foi então que Freud começou a se afastar das ideias pseudocientíficas de Fliess e a solidificar sua própria teoria psicanalítica. A correspondência entre os dois foi publicada posteriormente e é uma fonte essencial para entender o desenvolvimento inicial da psicanálise.

Apesar da influência, Freud eventualmente rejeitou as teorias de Fliess, mas a relação mostra como Freud dependia do diálogo intelectual para desenvolver suas ideias.

TRATAMENTO

O tratamento das neuroses na psicanálise busca identificar as causas dos conflitos internos e, a partir daí, promover a elaboração desses conflitos e a transformação psíquica do indivíduo. O trabalho terapêutico envolve a análise dos conteúdos latentes do discurso do paciente, a interpretação dos conteúdos inconscientes que geram os sintomas e a busca de novas formas de lidar com as angústias e conflitos internos.

A análise não visa eliminar o sintoma à força, mas permitir que o sujeito compreenda seu sentido e transforme sua relação com ele.

REFERÊNCIAS:

·  “As Neuropsicoses da Defesa” (1894): Primeira formulação teórica sobre o mecanismo de repressão nas neuroses.

· “Estudos sobre a Histeria” (1895, com Josef Breuer): Obra fundadora da psicanálise, com casos clínicos de histeria.

·  “Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade” (1905): Explora o papel da sexualidade infantil no desenvolvimento das neuroses.

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